"Meto a cara na manhã
empoeirada
da metrópole
arrasto
comigo um poema
em
busca de palavras exatas
para
ser tecido.
Jogo
o corpo na manhã
cinzenta da cidade
com a cara lavada de perspectivas
e o coração que é um largo lençol
de cicatrizes.
urbanotrópole
com o saco cheio de sair pela traseira
da vida."
~Da série problemas pessoais~ Salgado Maranhão
Foi em uma dessas manhã de dezembro passado que me deparei com
esta arte no muro de um caminho que faz parte da minha rotina diária.
O estilo me chamou a atenção: nostálgico.
Traços firmes, com o branco e o preto, eventos cotidianos... Simples. Me
ganhou! E mais tarde eu iria descobrir que este é somente um dos vários muros
da Vila Anglo Brasileira (e da cidade) que são preenchidos com personagens que
nos lembram um pouco de nós mesmos.
Não sei dizer ao certo se os desenhos foram
chegando aos poucos, ou se sempre estiveram lá e eu não estava com o coração
aberto para perceber. Perceber que existe vida acontecendo no meio do concreto
da cidade. Que há poesia debaixo da poeira cinza de São Paulo.
Apelidei carinhosamente o autor de "artista anônimo da Vila Anglo". Até descobrir, num domingo, após um show no Parque da Juventude, Zona Norte da cidade, mais uma imagem estampada em uma das paredes. Inconfundível!
Bom... eu PRECISAVA saber quem era esta
pessoa que, sem exageros, me arrancava um sorriso a cada esquina, a cada muro.
Olhando com mais atenção, percebi uma
assinatura que se repetia em todos os cantinhos de todos os desenhos... Busquei
na internet, sem sucesso. Foi quando, por meio de um apelo nas redes sociais,
um amigo me mandou o perfil dele: Alex Senna (http://www.facebook.com/senna.alex?ref=ts&fref=ts)
Mais inexplicável ainda foi meu encontro com
o artista. Um dia depois de desvendar sua identidade, por acaso a pé, passei
pela mesma pracinha de todos os dias... E lá estava o próprio, em ação.
Minha abordagem foi a clássica: SOU SUA FÃ. Talvez eu tenha
assustado o rapaz, mas o objetivo era apenas fazê-lo entender que o trabalho
dele alegra a vida de muita gente que, como eu, tem de enfrentar o trânsito
louco de São Paulo todos os dias.
A imagem abaixo
foi a última que vi, estampada em um muro da Vila Anglo. E minha diversão,
atualmente, é buscar outras espalhadas por aí! O que me faz sair do modo
automático e, realmente, parar para olhar a cidade.
Talvez por virem em conta-gotas, achados que se deram (e ainda se
dão) aos poucos, os desenhos tenham me marcado tanto! É como uma descoberta de
mim mesma, lenta e contínua, mas muito prazerosa!
- Para quem quiser saber mais sobre o trabalho de Alex Senna: http://www.alexsenna.com.br/
- E falando em olhar os muros, indico dois tumblrs muito bacanas:
* A ideia do título deste texto veio de uma hashtag usada no
Instagram por muita gente (e por mim, para compartilhar estas fotos) que flagra
artes nos muros... muros que falam conosco todos os dias.
"A ciência descreve as coisas como são; a arte, como são
sentidas, como se sente que são"
Fernando Pessoa
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